
Resumo
Este
artigo tem como objetivo analisar o significado do número e da marca da besta
em Apocalipse 13. Procuraremos apresentar as variantes do número 666 nos
manuscritos gregos do Novo Testamento. Em seguida, destacaremos o uso e o
significado das marcas no contexto dos primeiros cristãos. Finalmente, vamos
expor o significado teológico da passagem.
Palavras - chave: Apocalipse, número 666, marca da
besta.
The mark and number of the beast: A manuscript,
historical, and theological investigation of Revelation 13: 16-18
Abstract
This
article aims to analyze the meaning of the number and mark of the beast in
Revelation 13. We will seek to present the variants of the number 666 in the
Greek New Testament manuscripts. Next we will highlight the use and meaning of
the marks in the context of the early Christians. Finally, let us explain the
theological meaning of the passage.
Keywords: Revelation, number 666, mark of
the beast.
La marca y el número de la bestia: una investigación
manuscrita histórica y teológica de Apocalipsis 13: 16-18
Resumen
Este
artículo tiene como objetivo analizar el significado del número y la marca de
la bestia en Apocalipsis 13. Buscaremos presentar las variantes del número 666
en los manuscritos griegos del Nuevo Testamento. A continuación destacaremos el
uso y el significado de las marcas en el contexto de los primeros cristianos.
Finalmente, expliquemos el significado teológico del pasaje.
Palabras clave: Apocalipsis,
número 666, marca de la bestia.
Introdução
A
busca pela identificação da marca da Besta e pelo significado do seu número sempre
foi uma constante na vida de muitos cristãos. Mas é possível biblicamente
identificar essa marca e esse número? Além disso, qual seria o verdadeiro
número da besta? Essa pergunta deve ser feita porque os manuscritos gregos do
Novo Testamento apresentam variantes para esse número: 616; 646 e 665. Assim, qual
desses números seria o correto? E, mais, podemos interpretar a marca e o número
da besta a partir de certos acontecimentos dos nossos dias?[1] Essas
e outras perguntas serão respondidas por este artigo.
O
livro de Apocalipse
O livro do Apocalipse é um dois livros da bíblia
que mais intriga os leitores modernos. Tem sido uma fonte interminável de
debates entre os estudiosos e um paraíso para os fanáticos (CARVALHO, 2018,
p.8). Sua mensagem para a maioria das pessoas é
simplesmente incognoscível. Mas é provável que os leitores originais não
tivessem sofrido muito para interpretar sua mensagem (CARVALHO, 2018, p.8-9). No entanto, em nossos dias muitos estudiosos
estão divididos acerca do melhor modo de abordá-lo, embora de um
modo geral esse livro é mais simples que os Evangelhos (CARVALHO, 2018,
p.9). Essa é a boa notícia, pois o Apocalipse é de todos os livros do Novo
Testamento o que nos apresenta uma exposição mais detalhada e extensa sobre a profecia
(CARVALHO, 2018, p.9).
Contexto
histórico
O
debate em torno do contexto histórico do livro de Apocalipse é amplo demais
para ser abordado aqui. Mas, podemos adiantar que o pano de fundo histórico do
autor e leitores originais depende da data que se supõe que o livro fora escrito. Alguns estudiosos pensam em um cenário onde o Império Romano estava
apresentando (ou iria apresentar) algumas dificuldades para os cristãos. Nesse
ponto de vista, o livro do Apocalipse apresenta uma mensagem de encorajamento e
de confiança (OSBORNE, 2014, p.11-13).
Autoria
A
autoria do livro tem sido muito debatida (ROBERTSON, 2003,
p.659-660), mas alguns estudiosos estão certos que ele foi escrito pelo
apóstolo João (OSBORNE, 2014, p.2-6).
Data
Não
há um acordo entre os estudiosos acerca de quando o livro foi realmente
escrito. Todavia uma tradição cristã que remonta a Irineu defende que ele foi
escrito na época do imperador Domiciano (OSBORNE, 2014, p.6-11).
Destinatários
Os
leitores originais são identificados como habitantes da província romana da
Ásia Menor (Apocalipse 1.4)
O
estado do texto
Há
somente cinco manuscritos unciais contendo o texto do Apocalipse são eles: Alef, A, C, P, Q (ROBERTSON, 2003,
p.659). Desses, Alef pertence ao quarto século; A e C ao quinto; Q ao oitavo; e
P ao nono século (ROBERTSON, 2003, p.659). No entanto, somente Alef, A e Q (B2)
estão completos. No manuscrito C faltam os seguintes versículos: 1.1; 3.19-5.14;
7.14-17; 8.5-9.16; 10.10-11.3; 14.13-18.2; 19.5-21. No manuscrito P faltam os versos: 16.12-17.1;
19.21-20.9; 22.6-21(ROBERTSON, 2003, p.659). Tanto o manuscrito C como o P são palimpsestos (manuscritos que foram raspados e reescritos) (ROBERTSON,
2003, p.659).
Erasmo
em sua tradução do Novo Testamento grego enfrentou o problema dos manuscritos
incompletos do Apocalipse traduzindo do latim os versos gregos faltosos. Mas ao
agir dessa forma acabou por contribuir para aumentar o número de variantes
textuais desse livro (ROBERTSON, 2003, p.659). Segundo A. T. Robertson (citando Moffatt) nos 400
versículos do livro foram contadas mais de 1.600 variantes (ROBERTSON, 2003,
p.659).
O
gênero
O
livro de Apocalipse pertence ao gênero "apocalíptico" (CARVALHO,
2018, p.7). Esse tipo de literatura se popularizou no período interbíblico. Os livros
de Daniel e a Assunção de Moisés representam esse tipo de literatura (CARVALHO,
2018, p.7). Pode-se conjecturar que a apocalíptica judaica seja o produto de uma
situação histórica distinta, a saber, a prometida salvação messiânica não
aparecia, e em lugar do Reino de Deus, sucessões de reis pagãos governavam o
povo de Deus (CARVALHO, 2018, p.7). É,
portanto, nesse contexto de opressão e sofrimento que nasce a apocalíptica: obras
como, Jubileus, Apocalipse de Baruque (entre outras) surgem para provocar à
esperança e a fé num futuro glorioso (CARVALHO, 2018, p.7). A principal característica dessa literatura é que ela recorre a uma ou várias visões do passado, do presente e do futuro,
(real ou escatológico).[2] Essas visões são normalmente concedidas ao
vidente pelo próprio Deus, mas mediada por um ou vários anjos (CARVALHO,
2018, p.11). Dessa forma o autor
transmite novas profecias, sem temer por determinadas acusações (CARVALHO,
2018, p.11). Pela mesma razão, a
maioria dos apocalipses judaicos apela para os nomes de grandes profetas, como
Moisés, Enoque, ou Isaías, não se sabendo quem de fato os escrevera.
(CARVALHO, 2018, p.11).
Apocalipse
e sua interpretação
O
livro do Apocalipse tem sido interpretado de muitas maneiras. Algumas dessas
interpretações procuram a equivalência precisa entre as imagens e figuras do livro
com determinados eventos históricos resultando em uma longa tradição de
interpretação “decodificação” em que uma imagem é vista como tendo um
significado particular (CARVALHO, 2018, p.13). Nesse caso, o intérprete assume
que se o código é compreendido em sua totalidade, todo o livro do Apocalipse
pode ser processado em uma ou em outra forma e seu significado interior
desnudado (CARVALHO, 2018, p.13). Dessa maneira são relacionadas algumas
imagens com certos personagens históricos ou determinado evento (CARVALHO,
2018, p.13). É nessa perspectiva que
alguns intérpretes vêem São Francisco como o anjo com o selo vivo em Apocalipse
7.2, e outros interpretam Apocalipse 9 como sendo uma descrição de ataques de
mísseis balísticos sobre as cidades do mundo (CARVALHO, 2018, p.13). Outros leem
o Apocalipse acreditando que ele revela todo o futuro da história, desde os
tempos do Novo Testamento até a consumação final (CARVALHO, 2018, p.13). Há
também aqueles que acham que esse livro conta a história da apostasia da Igreja
Católica Romana. Mas existem pessoas que não veem no livro qualquer valor
permanente (CARVALHO, 2018, p.13). Para elas o livro é encarado como um
apanhado de mitos primitivos cristãos sem significado para os nossos dias
(CARVALHO, 2018, p.13-14). Por fim,
existem aqueles que buscam descobrir no livro do Apocalipse certos princípios
sobre o modo como Deus lidou com os homens ao longo dos séculos (CARVALHO, 2018,
p.14).[3]
Apocalipse
13
Uma
leitura originada quando um copista tentou ajusta o verbo “ἐστάθη” – “pôs-se em
pé” com a primeira pessoa do verbo “εἶδον” – “vi” (METZGER, 2006, p.667) levou
os antigos comentaristas (OMANSON, 2010, p.557) a pensar que Apocalipse 12.18
funcionava como uma introdução ao capítulo 13 (OSBORNE, 2014, p.549). À parte
dessa discussão, temos nesse capítulo o anúncio da manifestação de duas bestas,
uma subindo do mar (13.1) e outra emergindo da terra (13.11). A unidade do
livro parece reforçada pelo uso concentrado do substantivo grego “θηρίον” –
“besta” (que ocorre 16 vezes) (LEE, 1998, p.178). A descrição
desses dois animais pode ter sido feita tendo em mente Jó 40 e 41(BEALE;
CARSON, 2014, p.1371), mas é possível que o material desse capítulo seja uma
reelaboração criativa de Daniel 7.1-7(BEALE; CARSON, 2014, p.1371).[4]
As
duas bestas
As
duas bestas descritas nesse capítulo são agentes por meio dos quais, Satanás
levará a cabo sua guerra contra os crentes (MOUNCE, 2007, p.338). A primeira
besta que sai do mar é apresentada como um monstro com sete cabeças e
características combinadas de outros animais. Ela é a encarnação dos poderes do mal
e atrai a admiração universal por atos que parecem ser benéficos (ROWLAND,
1999, p.355). A tarefa da segunda besta é persuadir as pessoas de que o que
elas vêem na primeira besta é admirável e singular (ROWLAND, 1999, p.355). Assim,
para alguns autores em Apocalipse 13 temos um retrato gráfico da operação
ideológica do Estado (ROWLAND, 1999, p.355). Realmente parece existir algum
tipo de relação entre esse capítulo e Daniel 7 (BROWN; FITZMYER; MURPHY, 2011,
p.859). Certos detalhes, inclusive sugerem que uma das bestas do Apocalipse
manifesta algumas características dos animais de Daniel 7 (BROWN; FITZMYER;
MURPHY, 2011, p.859). Mas enquanto Daniel 7 está interessado em quatro reis e
reinos sucessivos (Dn.7.17.23), Apocalipse 13 se concentra em um grande reino que
é a culminação de todos os terrores dos anteriores (BROWN; FITZMYER; MURPHY,
2011, p.859).
A
besta e os mitos pagãos
Existe
uma intertextualidade entre Apocalipse 13 e os livros de Jó e Daniel (BROWN;
FITZMYER; MURPHY, 2011, p.859). Mas é verdade também que a estrutura narrativa
desse capítulo apresenta algumas semelhanças com a de certos mitos cananeus (BROWN;
FITZMYER; MURPHY, 2011, p.859). Por exemplo, “Yam” - "mar" (de onde a
primeira besta emerge) nos mitos cananeus representava uma divindade que vivia
em conflito com Baal, o deus da tempestade e da fertilidade (BROWN; FITZMYER;
MURPHY, 2011, p.859). No Antigo Testamento o mar às vezes aparece como um
oponente de Deus (Sl 74.13), assim, a associação da besta com o mar a
caracteriza como um símbolo mítico do caos e da rebelião.
A
marca como paródia
O
Apocalipse descreve como uma paródia a marca que a besta imprime em seus
adoradores (Ap.13.16). Essa marca é uma imitação do selo que Deus pôs sobre os
seus redimidos (Ap.7.3). [5]
O livro se refere repetidamente ao nome de Deus escrito na testa dos crentes
(14.1,22. 4). Portanto, a marca da besta pode ser entendida como a contrapartida
visionária da tradição de um sinal público de compromisso (JUDGE,
1991, p. 158)
Estigmas e marcas na antiguidade
O
autor de Apocalipse em 13.16 usou o substantivo (neutro) grego “χάραγμα” para
“marca” (GREEN; WIGRAM, 1982, p.913). Essa palavra pode indicar tanto uma marca
gravada quanto uma imagem esculpida (ROBISON, 2012, p.979). Na antiguidade não
era incomum encontrar pessoas com marcas ou tatuagens. As marcas podiam ser
feitas por várias razões. Um devoto de Asclépio (na mitologia Greco-Romana, o
deus da medicina e da cura) podia marcar seu próprio corpo com um sinal de
devoção e de agradecimento (JUDGE, 1991, p.158-159). Um seguidor de Cybele e
Attis podia ser “selado” com tatuagens (JUDGE, 1991, p.160). Um motorista de
carruagem bizantina podia ter a testa tatuada com uma cruz (JUDGE, 1991, p.160).
Os escravos fugitivos podiam ser marcados
na testa como penalidade (JUDGE, 1991, p.160). Mas os cristãos (coptas/ Egito) também
marcavam seus corpos com tatuagens.[6]
A marca da besta no
contexto da Ásia Menor
Marcas
também poderiam ser impressas como uma exigência. Por exemplo, supõe-se que em
algumas cidades da Ásia Menor para se ter acesso ao tribunal a pessoa deveria
receber previamente uma marca (JUDGE, 1991, p.158-159). Já se especulou que na cidade
de Éfeso no tempo do imperador Domiciano a entrada ao mercado só era liberada
para aqueles que mostrassem uma marca (JUDGE, 1991, p. 159-160).[7] Aqueles
que fossem fazer compras ou negociar mercadorias eram obrigados (antes de
entrar no mercado) a oferecer um sacrifício ao imperador.[8] Depois
do sacrifício apresentado, eles recebiam uma marca feita de tinta no pulso ou
na testa como sinal de que cumpriram obrigação do sacrifício (JUDGE, 1991,
p.160): agora a pessoa com a marca teria acesso liberado ao mercado, poderia
comprar e vender. Porém, não temos certeza se tal obrigação realmente existiu.[9] No
entanto, sabemos que o culto a César havia se tornado obrigatório para todo
cidadão romano na época de Domiciano:[10]
em cada província havia funcionários e sacerdotes para administrar esse culto. Segundo
William Barclay, a pessoa depois que rendia seu culto anual ao imperador podia
solicitar um certificado como prova de que cumpriu sua obrigação:[11]
Aos que foram designados para
presidir os sacrifícios, de parte do Inares Aqueo, da localidade do Teoxenis,
junto com seus filhos Aias e Fira, aqueles que vivem na localidade de
Teladelfia. Sempre oferecemos sacrifícios aos deuses e agora, em sua presença e
segundo as normas vigentes, oferecemos sacrifícios e libações e provado as
coisas sagradas lhes solicitamos que nos deem um certificado no qual conste que
o cumprimos
O
texto no certificado dizia: “nós, os representantes do Imperador, Sereno e
Hermas, os vimos oferecer sacrifício”.[12] Mas
esse certificado tem alguma relação com a marca da besta descrita em Apocalipse?
Não sabemos. Todavia para alguns autores a adoração da imagem da besta (13.14) foi
associada à promoção do culto imperial romano, muito difundido na área das
igrejas mencionadas no Apocalipse (ROWLAND, 1999, p.354). Parece fazer sentido
a suposição de que a adoração a besta não poderia ser realizada em privado, isso
porque consequências públicas, sociais e econômicas seriam impostas aos que se
recusassem adorá-la: sem o nome da besta ou o número de seu nome seria
impossível comprar ou vender (ROWLAND, 1999, p.354).
A
gematria e o número da besta
Desde
o bispo Vitorino de Pettau que sofreu martírio sob Diocleciano (303 a.D) a
equivalência entre letras e números tem sido estudada na tentativa de elucidar
o enigmático número 666.[13] Muitos
autores continuaram acreditando que a gematria forneceria as chaves para o
entendimento do significado do número da besta (OSBORNE, 2014, p.581-582). Mas
o que é a gematria? É um método hermenêutico que analisa cada letra pelo seu
equivalente numérico. Faz parte de uma tradição judaica que remete à interpretação
talmúdica do Tanakh através do Baraita de 32 regras (PIVIK, 2011, p.3). Mas,
essa não é, no entanto, uma prática estritamente judaica, pelo contrário, os
babilônios e os gnósticos da era cristã primitiva usavam o conceito de gematria,
bem como os intérpretes de sonhos na Grécia helenística (PIVIK, 2011, p.3). Um
exemplo de uso não-bíblico da gematria vem de Sargão II, o rei assírio que
construiu uma muralha próxima a Khorsabad de 16.283 côvados de comprimento para
coincidir com o valor numérico de seu nome (PIVIK, 2011, p.3). Um estudioso
cabalístico do século 20 supôs que a ascensão da gematria judaica ocorreu em decorrência
do uso de letras gregas na época do Segundo Templo (PIVIK, 2011, p.3).
Segundo
a hermenêutica da gematria o número 666 apontava para o imperador romano Nero.
O nome “Caesar Neron” escrito em letras hebraicas (נרון קסר) é o mesmo que 666. (OMANSON, 2010, p.561).
No entanto, se o num sofit (a letra N (ene) no final de uma palavra em hebraico)
for omitido (נרו קסר) temos então o número 616 (METZGER; EHRMAN, 2005, p.61). O nome
“Nero Caesar” escrito em latim era equivalente ao número 616. O problema é que
temos mais dois números sugeridos em manuscritos gregos como sendo o número da
besta, são eles o número 646 e o número 665( METZGER, 2006, p.670).
Variantes
textuais e o número da Besta
O
crítico textual (e um dos maiores colecionadores de manuscritos gregos do livro
de Apocalipse) H.C. Hoskier comentou certa vez que o estudo textual deve sempre
ser o precursor de qualquer interpretação (HOSKIER, 1929, p.ix). Assim, um
passo importante em direção ao entendimento do número da besta será verificar
sua ocorrência e sua estabilidade nos manuscritos gregos que chegaram até nós. Ao
iniciar essa pesquisa descobrimos que alguns manuscritos antigos apresentam
variantes textuais para esse número. Por exemplo, no manuscrito C e em alguns
manuscritos que Irineu (segundo século) e Ticônio (quarto século) conheciam o
número da Besta era “616” (METZGER, 2006, p.670). Na oitava edição do Novum
Testamentum Graece de Tischendorf o número “616” é apresentado em dois
manuscritos minúsculos (METZGER, 2006, p.670). No aparato crítico de O Novo
Testamento Grego – Quarta edição Revisada – conhecemos outras variantes
textuais do número da besta, como veremos a seguir:
έξήκοντα
ἕξ (sessenta e
seis= 666) ocorre nos seguintes manuscritos: p47 א A 051 205 209 1006 1611 1841 2052 2329 2351 2377 Biz[P
046] itgig vg sirfi,h copsa,bo arm
eti Irineu Hipólito André; Vitorino-Pettau Gregório-Elvira Primásio Beato; ἑξήκοντα πέντε (sessenta e cinco= 665)
ocorre em um manuscrito minúsculo, o 2344;
τεσσαράκοντα ἕξ (quarenta e seis= 646) aparece no manuscrito itar ;
δέκα ἕξ (dezesseis= 616) ocorre nos
seguintes manuscritos: p115 (χῖς)
C vgms mssseg.Irineu;
Cesário.
Essa
variante possivelmente poderia se referir a “Caio” César (o louco Calígula) ou
então a “Nero César”.[14]
O
manuscrito (p115) é um
texto fragmentário do livro de Apocalipse publicado como Oxyrhynchus papyrus
4499. Ele consiste em 26 fragmentos de nove páginas diferentes, segundo METZGER
E EHRMAN (2005, p.61) é impossível saber se o manuscrito original incluía outros
textos junto com o Apocalipse. No entanto, esse manuscrito pode ser
paleograficamente datado do final do terceiro ou do início do quarto século, e,
é uma das mais antigas testemunhas do livro de Apocalipse, “um pouco mais
antiga que o Codex Sinaiticus, mas não tão antiga quanto o manuscrito (p47)” METZGER E EHRMAN
(2005, p.61).
O
número da imperfeição
Segundo
William Milligan (MILLIGAN, [s.d.], p.235) o número seis despertava um
sentimento de medo entre os judeus, isso porque indicava a incapacidade de
alcançar o ponto sagrado. Sua repetição (6 três vezes) significava mais que uma
queda do número de perfeição: sete (ROWLAND, 199, p. 355). Nessa perspectiva, a besta parece estar
próxima da perfeição, mas o que a falta à torna diabólica e absolutamente
oposta a Deus. Seu número é três vezes aquém da perfeição (ROWLAND, 199, p.
355). Porém, como ela tem a aparência da verdade poderá facilmente enganar.
O
latim é o número da besta
Irineu
interpretou o número 666 seguindo o mesmo ponto de vista da gematria, assim
para ele:
....O primeiro governante romano
foi Latinus. Seu nome escrito em grego é Lateinos. Letras gregas são numerais,
cada letra representando certo número. Assim: L-a-t-e-i-n-o-s. Essas letras
gregas quando usadas como numerais são iguais para os números opostos e seu
total adicionado é 666. Aqui, então, é o número da besta, é o número de um
homem, e é 666. A marca da besta, então, é a palavra "latim" (CARROL,
1913, p.189)
Naquela
época o latim era a língua mais importante tanto do mundo civil quanto do mundo
religioso, assim o que se tem em mente aqui é o império latino papal (CARROL,
1913, p.189-190). No entanto, segundo David Brady (BRADY, [s.d.], p.220) o
próprio Irineu abandonou essa tese em favor de um novo argumento baseado no
termo “teitan”. O autor lembrou que a nota marginal de Apocalipse 13: 18 na
Bíblia de Genebra (de 1560) fazia menção a esse mesmo nome, e ressaltava a
preferência do papa pela língua latina e desprezo pelo hebraico e o grego (BRADY,
[s.d.], p.220). Ele também comentou que em defesa dessa interpretação Napier
argumentou que João escreveu para uma audiência grega que estava acostumada a
prática de números sendo substituídos por nomes:
Brightman acrescenta uma nota que
ocorre com bastante frequência, comentando que homens importantes, como
imperadores, reis e magistrados, recebem a marca da besta na mão direita, isto
é, lutam como soldados da besta; as pessoas comuns, por outro lado, carregam
sua marca na testa, manifestando assim sua vassalagem à besta. O "número
do nome”,escreve ele, está gravado particularmente nos textos gregos, já que no
ano de 1273 d.C, Miguel VIII Paleólogo fez um pacto especial com Gregório X em
Lião, desde que ele e seu povo dariam a honra do principado ao papa latino;
somente nestes termos eles receberam o reconhecimento da jurisdição papal (BRADY, [s.d.], p.221)
Embora
alguns estudiosos rejeitem alguns pontos da tese de Irineu, outros sustentam que
a interpretação baseada no termo “lateinos” seja a mais adequada (BRADY,
[s.d.], p.221). Mas outros rejeitaram essa interpretação (BRADY, [s.d.],
p.223-224). Para alguns a descrição da besta sob as letras “χξς” (a notação
alfabética grega para 600, 60 e 6, onde a terceira letra não é sigma final, mas
a ligadura stau ou estigma, combinando σ e τ) é figurativa da mesma forma que a
descrição de Deus como Alfa e Ômega em Apocalipse 1. 8, “ambos descrevendo não
um nome literal, mas um atributo, e ambos fazem referência ao elemento tempo”
(BRADY, [s.d.], p.225).
Conclusão
Vitorino
um dos primeiros comentaristas do livro de Apocalipse acreditava que o capítulo
13 descrevia acontecimentos da época dos destinatários originais do livro.[15] Mas
é preciso refletir muito bem antes de abraçar ou dar crédito a qualquer
interpretação dogmática desse capítulo.[16] Devemos
ter o cuidado para não fazer qualquer associação direta entre a besta e
qualquer personagem histórico. Isso porque toda a tensão do capítulo proíbe a
suposição de que o significado do nome se esgota em um único indivíduo.[17] No
entanto, não se deve ignorar que Nero, Domiciano ou qualquer outro perseguidor
da igreja agiram no mesmo espírito da besta descrita em Apocalipse 13.
Sobre
o número da besta, acreditamos ser um equívoco interpretá-lo literalmente. O
livro do Apocalipse emprega linguagem altamente simbólica para descrever Deus,
Jesus, o Diabo, o novo céu e a nova terra, e é assim até mesmo quando descreve a
besta que sobe do mar e a que emerge da terra. Se, é assim, então, por que
deveríamos interpretar o número da besta como literal? Talvez devêssemos pensar
no número e na marca da besta como um tipo de sinal de um compromisso com as
forças opressoras e anticristãs que atuam no mundo.
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em:17 Jun./2019.
[1]
Na Suécia milagres de pessoas já usam microchips sob a pele, para mais detalhes
ver: Época negócios. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/05/na-suecia-3-mil-pessoas-ja-usam-microchips-sob-pele-e-nao-temem-consequencias.html>.
Acesso em: 18 Jun./2019. Ver também: BLASCO, Lucia. Como funcionam os microchips implantados sob a pele que permitem pagar
sem dinheiro ou cartão. Disponível
em: <https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-46408032>.Acesso em: 18
Jun./2019.
[2] CARVALHO,
2018, p.11.
[3]
Para saber mais sobre as abordagens do Apocalipse ( historicista; preterista; futurista; idealistas e outras)
ver: DEFRANCISCO, James. Various Views
on the Book of Revelation. Disponível
em:<https://www.academia.edu/5260420/Various_Views_on_the_Book_of_Revelation>.
Acesso em:18 Jun./2019.
[4]
Ver também: FRUCHTENBAUM, Arnold. The
use of the Old Testament in the book of Revelation. Disponível em:<https://pdfs.semanticscholar.org/8e7f/382029dd1f7b76ab573cd612e5e10595252a.pdf>
.Acesso em:17 Jun./2019.
[5]
Segundo Edwin Judge isso pode ter relação como Êxodo 28.36-38 e a lâmina de
ouro puro do turbante de Aarão que tinha gravada “Santidade ao Senhor”. Ele vê
semelhanças com Daniel 28.10; Isaías 43.7,63 e Tiago 2.7.[5] O autor
também ressaltou que em Ezequiel 9.2-6 um homem vestido de linho colocou na
testa daqueles que deveriam ser poupados uma marca, para mais detalhes, ver: JUDGE,
Edwin A. The Mark of the Beast,
Revelation 13.16.In: Tyndale Bulletin 42.1 1991, p.158.
[6]Cf.
JOHNSON, Jennifer A. Tattoos of the
Cross. Disponível em:<https://www.christianitytoday.com/history/2009/march/tattoos-of-cross.html>.
Acesso em: 15 Jun./2019. A tatuagem dos
coptas geralmente consistia de três linhas, três pontos e dois elementos. Era
assim porque o número três representava a trindade, ver: TASSIE, Geoffrey J. Identifying the practice of Tattooing in
Ancient Egypt and Nubia. In: Institute
of Archaeology 14, 2003, p.87.
[7] Sobre o templo dedicado ao imperador ver:
CUKROWSKI, Kenneth. The influence of the
Emperor cult on the book of Revelation. Disponível
em:<https://pdfs.semanticscholar.org/4cf1/83bac15232879f2dbd09d559c7364ab383cd.pdf>.
Acesso em: 15 Jun./2019.
[8]
JUDGE, 1991, p.160.
[9]
Parece que estamos aqui no campo das conjecturas.
[10]
BARCLAY, William. Comentário do Novo
Testamento. [s.l; s.n.; s.d.], p.317. Disponível
para consultar
em:<https://pt.scribd.com/document/344641961/COMENTARIO-WILLIAM-BARCLAY-NOVO-TESTAMENTO-COMPLETO-pdf>.Acesso
em: 16 Jun./2019.
[11]
BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento. [s.l; s.n.; s.d.], p.317. Disponível para consultar
em:<https://pt.scribd.com/document/344641961/COMENTARIO-WILLIAM-BARCLAY-NOVO-TESTAMENTO-COMPLETO-pdf>.Acesso
em: 16 Jun./2019.
[12]
BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento. [s.l; s.n.; s.d.], p.317. Disponível para consultar
em:<https://pt.scribd.com/document/344641961/COMENTARIO-WILLIAM-BARCLAY-NOVO-TESTAMENTO-COMPLETO-pdf>.Acesso
em: 16 Jun./2019.
[13]
Sobre o martírio de Vitorino e o fato dele ter sido um dos primeiros
comentaristas do livro do Apocalipse ver: BRUCE, F. F. The Earliest latin Commentary on the Apocalypse. In: The Evangelical Quarterly 10, 1938, p.352-366.
Partes do comentário de Vitorino está acessível online, ver: VICTORINUS. Fathers of the Church: Commentary on the Apocalypse. Disponível
em: <http://www.newadvent.org/fathers/0712.htm>. Acesso em:17 Jun./2019.
[14]
GUTHRIE, Donald. New Testament
Introduction. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em: 30 out. 2019.
[15]Cf.
VICTORINUS. Commentary on the Apocalypse.
Disponível
em:<https://www.preteristarchive.com/0260_victorinus_apocalypse/>.Acesso
em:17 Jun./2019.
[16]
Cf. BRADY, [s.d.]. p.238-240.
[17]
MILLIGAN, [s.d].p.236.