Obs.:
Este artigo foi publicado na Revista Vox Scripturae da Faculdade Luterana de
Teologia.
Resumo:
Este artigo visa compreender o significado da frase: “θεοὶ μὲν γὰρ εἰσίν” – “Certamente os deuses existem” no contexto da chamada carta sobre a felicidade de Epicuro. E, para este fim, questionará a relação desse enunciado com o programa da “vida abençoada” do filósofo de Samos. Epicuro estava apresentando sua declaração de fé: Θεοὶ εἰσίν? Provavelmente não. Mas é verdade que ele usou linguagem teológica quando apresentou seu plano de felicidade. Por que ele faz isso? Esta é a pergunta que este artigo procurará responder.
INTRODUÇÃO
Epicuro
é reconhecidamente um filósofo materialista. No entanto ao escrever uma carta
para um de seus discípulos (Meneceu), ele teve que se deter em uma discussão
intrincada sobre os efeitos psicológicos de certas ideias religiosas como, por
exemplo, culpa e condenação, etc., na vida das pessoas. Através de referenciais
teóricos, bem como o estudo e tradução do texto grego da chamada carta sobre a
felicidade, buscar-se-á entender os motivos que levaram Epicuro a se deter
brevemente em discussão sobre esses temas na apresentação de um programa que declarava
que a felicidade não dependia da vontade divina ou da obediência a qualquer
mandamento religioso.
1 EPICURO
1.1 Nascimento
A.
E. Taylor[1]
comentou que Metrodoro se referiu a Epicuro como um ateniense filho de Neocles
e Chaerestrata (Queréstrata) do município de Gargettus e da casa dos Philaidae.
Mas, embora cidadão ateniense, ele não nasceu em Atenas.[2] Seu
pai Neocles sendo mal-provido em casa, viu-se obrigado a emigrar para a ilha de
Samos junto com outros dois mil atenienses indigentes em um programa assistido
pelo Estado.[3]
Foi nessa ilha em 352 a.C., que Epicuro nasceu (onze anos depois que seus pais
haviam chegado ali).[4]
Ele foi provavelmente o segundo em uma sequência de quatro irmãos.[5]
1.1.1 Educação
Alguns
autores afirmam que Epicuro começou seu estudo da filosofia aos 14 anos com o
platonista Pamphilus (Pânfilo).[6]
Mas ao completar dezoito anos esses estudos foram interrompidos pela obrigação
de voltar a Atenas para cumprir dois anos de treinamento militar.[7]
Após a morte de Alexandre e a expulsão dos atenienses por Pérdicas, Epicuro
seguiu seu pai para a cidade de Cólofon. Nessa cidade ele estaria próximo de
Teos, a casa na época do filósofo atomista Nausífanes.[8] Estudar
a teoria atomista era crucial para Epicuro.[9] Em
Teos, como observou Farrington Benjamin,[10] ele
teria acesso aos textos dos atomistas e poderia ouvi-los expostos por um dos
principais professores daquela escola. Farrington ainda comentou:[11]
É
verdade que ele brigou muito tempo com seu novo professor. Sua razão era
interessante. Epicuro ficou encantado com a magnífica síntese de duzentos anos
de especulação sobre a natureza das coisas que havia sido alcançada por
Demócrito; mas ele não podia encontrar no atomismo uma base para a ética. Esse
parece ter sido o sentimento de condenação de Nausífanes, a quem ele chamou de
"um homem mau, hábil nas coisas pelas quais não se pode alcançar a
sabedoria"
Epicuro
ficou algum tempo Teos, depois retornou a Atenas no ano de Anaxicratos.[12]
1.1.2 O jardim
Epicuro
também residiu por um período de tempo em Mytilene (Lesbos) e em Lampsacus.[13]
Mas entre os anos 307 e 305 retorna novamente para Atenas.[14] Ele
comprou uma casa com um grande jardim murado, onde ensinou e pode formar com
seus seguidores uma comunidade.[15]
Sua escola ficou conhecida pelo nome do Jardim - Kêpos.[16] O
filósofo do jardim ficou em Atenas até sua morte em 271, aos 72 anos de idade.[17]
1.1.3 Obra
Acredita-se
que a produção literária de Epicuro tenha sido volumosa.[18] Mas
infelizmente não chegou até nós a maior parte de seus textos. Sobraram apenas fragmentos
dispersos preservados em citações de autores posteriores. No entanto, possuímos
duas cartas indubitavelmente genuínas da sua autoria, uma que foi endereçada a
Heródoto, que discorria sobre os princípios gerais do atomismo, e outra destinada
a Meneceu que continha um resumo do seu ensino ético, ambos os documentos estão
inseridos em Diógenes.[19]
1.1.4 Esquecimento
Após
a sua morte, suas ideias continuaram a florescer como um movimento filosófico.[20]
Comunidades de epicuristas surgiram em todo o mundo helenístico, e celebrações
foram realizadas em sua memória.[21]
Mas à medida que a igreja se tornava mais poderosa e dogmática, acabou entrando
em conflito com o ensino de Epicuro.[22] Por
essa razão, em meados do quarto século o pensamento epicurista já havia caído
em completo esquecimento, a ponto do Imperador Juliano (360-363 d.C.) se
vangloriar do fato de que quase todos os livros de Epicuro não estarem mais em
circulação.[23]
E, como comentou Taylor[24]
“no final desse século, Agostinho declarou que mesmo nas escolas pagãs de
retórica, as opiniões de Epicuro haviam sido esquecidas”. Porém, no Renascimento
um interesse sério no epicurismo foi revivido.[25]
1.1.5 Filosofia
A
característica distintiva do pensamento filosófico de Epicuro era que visava a
um fim exclusivamente prático.[26]
Daí sua escola ser nomeada como a dos "pragmatistas da antiguidade": Epicuro
costumava dizer que a filosofia é uma atividade que por meio do raciocínio e
discussão produz uma vida feliz.[27]
Ele também dizia que não devemos fazer uma mera pretensão da filosofia, mas ser
verdadeiros filósofos: "o discurso dos filósofos pelos quais nenhuma das
nossas paixões é curada é apenas ocioso".[28]
Talvez por isso ele tenha desprezado a história, a matemática e o cultivo
literário com base no fato de que eles não agem sobre a conduta.[29]
Taylor[30]
comentou que em um fragmento existente de uma carta, Epicuro ressaltou com
grande explosão de linguagem “(...) navegue e fuja de toda a
"cultura"; e, em outro, "felicito-o por ter chegado à filosofia
sem mácula por qualquer "cultura".[31]
Segundo
Taylor[32],
a única ciência que Epicuro atribuiu valor foi a física (a teoria geral da
constituição do universo). E, ele valorizou essa ciência simplesmente por seu
efeito moral.[33]
Em outras palavras, a física libertaria de toda crença na ação de Deus ou dos
deuses, e assim livraria os homens do pavor dos julgamentos divinos, e do
esforço ansioso para ganhar seu favor.[34]
Epicuro
rejeitou toda a ciência especulativa e sinalizou como inútil a lógica
silogística da Academia e de Aristóteles.[35] Das
três divisões da Filosofia como fixadas por Xenócrates, a Lógica, a Física e a
Ética: as doutrinas do discurso, da natureza, da conduta, Epicuro dispensou
totalmente a primeira, e reteve a segunda simplesmente como uma introdução
necessária à terceira.[36]
Ele confinou a lógica à epistemologia - kanônika - que permitia distinguir proposições
verdadeiras das falsas.[37]
Para o filósofo, o principal critério da verdade vinha dos sentidos. Podia-se
obter conhecimento através deles desde que usados adequadamente.[38]
Mas os sentimentos - pâthe - também forneciam critérios para a verdade, serviam
como critérios para valores.[39]
Ele também identificou a prolépsis como critério:[40] “uma
compreensão genérica instintivamente adquirida de sua natureza”. Essa
compreensão genérica incluía: Deus, seres humanos e corpo.[41]
A
física epicurista estava baseada nas evidências das experiências sensoriais e
nas concepções genéricas naturais.[42] Ela
era materialista e mecanicista. Ad Bergsma[43]
argumentou que Epicuro se apropriou de grande parte da mecânica de seu
antecessor, o atomista Demócrito, mas introduziu um elemento de espontaneidade.
Ainda segundo Bergsma[44],
Epicuro acreditava que os constituintes básicos do mundo eram átomos em
movimento no vazio e que os objetos comuns são conglomerados desses átomos.
Desse modo, as propriedades dos corpos macroscópicos e todos os eventos que
vemos podem ser explicados em termos de coalizões, repercussão e emaranhamento
de átomos.[45]
As ideias de Epicuro sobre ética foram baseadas em sua visão da física e da
lógica: “no domínio da ética, devemos confiar em nossos sentimentos de prazer e
dor. Prazer- hêdone - é a única coisa que é intrinsecamente valiosa e deve ser
considerada como o principal critério para todas as ações”. [46]
Bergsma[47]
argumentou que para Epicuro o prazer e a dor são conjuntamente exaustivos: a
ausência de dor é em si mesma um prazer. Isso implica que não há estado
intermediário, pois só precisamos sentir prazer quando estamos com dor e,
quando não estamos com dor, não precisamos mais de prazer.[48] “E,
é por isso, que se diz que o prazer é o ponto de partida e o objetivo de
vivermos felizes”.[49]
Para
o filósofo do jardim, a liberdade da dor é em si mesma um estado agradável
porque consiste na falta de dor no corpo - aponia. A ausência de dor no corpo e
de distúrbios na alma produzia um estado que Epicuro chamava de ataraxia.[50]
Essa condição era também chamada de prazer estático, porque se pensava que ela
surgia da estrutura atômica estável de nossas almas.[51]
Benjamin
Farrington[52]
comentou que apesar de Epicuro ter escrito trinta e sete livros sobre física,
ele não era um cientista original. Seu objetivo com a filosofia natural era
dissipar a aflição da mente que a ignorância dos deuses, a ignorância da
natureza, e a ignorância da alma podiam produzir.[53]
1.1.6 Sobre o prazer
Para
Epicuro a busca do luxo não aumentava o prazer.[54] O
que ela pode fazer é aumentar os desejos levando a pessoa se tornar dependente e
mais vulnerável aos caprichos da fortuna.[55] Daí
o filósofo ensinar que às vezes é preciso ignorar prazeres menores para se
poder obter um prazer maior.[56]
E, nesse caso, é preciso calcular os papéis relativos dos prazeres corporais e
mentais, estáticos e cinéticos.[57]
Epicuro
era um asceta irrepreensível que ensinava que "prazer genuíno" não
era "o prazer dos libertinos", mas sim a simples satisfação de uma
mente e de um corpo em paz.[58]
Por isso, para ele a filosofia não devia ser perseguida como um conhecimento
por si só, mas para trazer a paz da mente e do corpo.[59]
2 A PROLÉPSIS - ΠΡΟΛΗΨΕΙΣ
Na
famosa carta sobre a felicidade emerge uma inquietante prolépsis: “θεοὶ μὲν γὰρ εἰσίν”– “pois certamente os deuses
existem”.[60]
Essa afirmação do conhecimento prévio acerca da existência dos deuses feita
pelo filósofo de Samos costuma ser ignorada, e às vezes, nem sequer é percebida
por alguns de seus leitores. Mas o que podemos inferir dessa declaração? Podemos
dizer que a locução “θεοί εἰσίν” – “os deuses
existem” deve ser tomada como uma confissão da crença de Epicuro? Não, ele não
poderia ir tão longe, não tinha fé para tanto. Na verdade, sua opinião acerca
da divindade destoava daquela sustentada pela maioria dos homens religiosas do
seu tempo, como veremos a seguir.
2.1 Sua teologia
Epicuro
deve ter escandalizado a muitos ao dizer que os deuses não se preocupavam com o
gênero humano. E, em certos momentos deve tê-los feito sorrir com declarações
que eram tão óbvias como, por exemplo, “os deuses são felizes, imortais, indestrutíveis
e abençoados”.[61]
Sua opinião sobre a morte também deve ter soado como uma heresia. Ele costumava
dizer que a morte não representava nada para os seres humanos, pois "todo
bem e mal consistia na experiência sensorial e a morte é a privação dessa
experiência".[62]
Quando uma pessoa morre: “sua alma deixava de existir, porque era composta de
átomos suaves que são dispersos se o corpo não os mantém unidos.”[63]
Para Epicuro quando alguém está morto não pode lidar com a morte, e quando está
vivo não precisa se preocupar com ela, já que a morte ainda não está presente.[64]
“Não há vida após a morte: "(...) A morte não é relevante nem para os
vivos nem para os mortos, pois não afeta ao primeiro e o segundo não existe”.[65]
2.2 Não existe
providência
Epicuro
não acreditava na providência divina. Para eles os deuses estão em estado de
beatitude e se ocupam apenas com a continuação da própria felicidade deles.[66]
Portanto, quando ele fala em aceitar “o mito dos deuses” – “θεῶν μύθῳ”
o faz tão somente em relação à crença no destino, pois para ele era melhor “acreditar”
nos deuses do que no destino:[67]
“Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos
naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses
através das homenagens que lhes prestamos ao passo que o destino é uma
necessidade inexorável.” No entanto é
importante destacar que ao descrever– as coisas que “produzem a felicidade”- “ποιοῦντα τὴνεὐδαιμονίαν”
Epicuro incluiu ali uma discussão sobre a origem das falsas opiniões sobre os
deuses. Para ele, um dos remédios contra a infelicidade era corrigir essas falsas
opiniões. Vamos compreender isso melhor mais à frente, mas agora, vamos ao
texto grego onde a famosa προλήψεις (prolépsis) objeto desta pesquisa emerge:[68]
πρῶτον μὲν τὸν θεὸν ζῷον ἄφθαρτον καὶ μακάριον νομίζων, ὡς ἡ κοινὴ τοῦ θεοῦ νόησις ὑπεγράφη, μηθὲν μήτε τῆς ἀφθαρσίας ἀλλότριον μήτε τῆς μακαριότητος ἀνοίκειον αὐτῷ πρόσαπτε πᾶν δὲ τὸ φυλάττειν αὐτοῦ δυνάμενον τὴν μετὰ ἀφθαρσίας μακαριότητα περὶ αὐτὸν δόξαζε. θεοὶ μὲν γὰρ εἰσίν ἐναργὴς γὰρ αὐτῶν ἐστιν ἡ γνῶσις οἵους δ’ αὐτοὺς <οἱ> πολλοὶ νομίζουσιν, οὐκ εἰσιν οὐ γὰρ φυλάττουσιν αὐτοὺς οἵους νομίζουσιν. ἀσεβὴς δὲ οὐχ ὁ τοὺς τῶν πολλῶν θεοὺς ἀναιρῶν, ἀλλ’ ὁ τὰς τῶν πολλῶν δόξας θεοῖς προσάπτων. οὐ γὰρ προλήψεις εἰσίν ἀλλ’ ὑπολήψεις ψευδεῖς αἱ τῶν πολλῶν ὑπὲρ θεῶν ἀποφάσεις. ἒνθεν αἱ μέγισται βλάβαι ἐκ θεῶν ἐπάγονται καὶ ὠφέλειαι. ταῖς γὰρ ἰδίαις οἰκειούμενοι διὰ παντὸς ἀρεταῖς τοὺς ὁμοίους ἀποδέχονται, πᾶν τὸ μὴ τοιοῦτον ὡς ἀλλότριον νομίζοντες
Tradução
do texto grego:[69]
Primeiro, acredite que Deus é um ser imortal e feliz, como é comumente aceito. Não atribua a Deus nada que seja inconsistente com a imortalidade e a bem-aventurança; em vez disso, acredite em tudo o que pode apoiar a imortalidade e a bem-aventurança em Deus. Os deuses existem: nosso conhecimento deles é claro. No entanto, eles não são como a maioria das pessoas acredita; na verdade, a maioria das pessoas nem sequer é consistente naquilo em que acreditam. Não é ímpio negar os deuses que a maioria das pessoas acredita, mas atribuir aos deuses o que a maioria das pessoas acredita. As coisas que a maioria das pessoas diz sobre os deuses são baseadas em falsas suposições, não uma compreensão firme dos fatos, porque dizem que os maiores bens e os maiores danos vêm dos deuses. Pois desde que eles estão em casa com o que é melhor sobre si mesmos, eles aceitam aquilo que é similar e consideram estranho o que é diferente
Mas
por que o filósofo resolve tratar das falsas opiniões sobre os deuses em uma
correspondência cujo objetivo é apontar os caminhos para a felicidade? A
resposta será dada a seguir.
2.3 Deus não pode ser
ignorado
Deus
tem sempre lugar na vida das pessoas, isso é verdadeiro para aqueles que o
confessam e para aqueles que o negam. Assim, qualquer que seja os lados aqui, Deus
precisa ser enfrentado. Além disso, os conceitos de culpa e condenação estão
sempre presente no inconsciente coletivo. Epicuro sabia muito bem disso. Por
essa razão, não pode deixar de tratar de certas concepções teológicas que
poderiam colocar em risco seu programa sobre a felicidade. Para não ver
comprometido seu projeto, Epicuro procurou explicar que os deuses não
interferem na vida dos homens. Também se esforçou para ensinar que não existe
vida após a morte, tencionado assim eliminar o temor de um juízo divino e de
uma condenação eterna. Assim, por um breve momento o filósofo materialista teve
que se voltar para questões de natureza metafísica e teológica.
2.4 A falsa teologia
Falsas
ideias sobre Deus podem realmente produzir tormento mental e espiritual no ser
humano. E, em um estado assim, quem pode ser feliz? Para Epicuro, o caminho em
direção a felicidade passava pela demolição dessas falsas ideias. Mas, sua motivação
aqui foi materialista, e, não necessariamente teológica. Ele desejava remover
todos os obstáculos do caminho do seu programa sobre a felicidade. Seu materialismo
não deixou nenhum espaço para o espiritual. Ele reduziu toda experiência humana
ao aparelho sensorial "todo bem e mal consiste na experiência
sensorial".[70]
Para ele isso era importante, pois conseguiria destruir os conceitos religiosos
de culpa e punição, obstáculos, segundo seu ponto de vista, para a felicidade
humana.[71]
John Fredy Castaño[72]
comentou sobre isso:
A culpa estava localizada naquele corpus de crenças míticas e teológicas que atribuíam aos deuses às funções de punição ou recompensa, tornando-se parte de uma linguagem de alienação de consciência, bem como em um dos primeiros e mais importantes controladores ideológicos da vida individual e coletiva
Uma
vez superada essa linguagem de alienação, Epicuro poderia propor um mundo sem
punição, sem culpa, mas não sem justiça.[73]
3 A VIDA BEM-AVENTURADA
Como
vimos, para Epicuro, a remoção do medo da punição eterna e da culpa tornava
possível uma “vida bem – aventurada” – “μακαρίως ζῆν”. Mas, o caminho em direção a essa
conquista exigia que o homem refletisse cuidadosamente sobre as causas de todas
as suas escolhas, e, em seguida, deveria se livrar de todas as opiniões falsas
responsáveis em causar perturbações sobre o seu espírito.[74]A
remoção dessas falsas opiniões incluía o que era dito acerca dos deuses. As
escolhas envolviam a aceitação das quatro (tetrapharmakon) verdades básicas do
epicurismo:[75]
Não tenha medo dos deuses
Não se preocupe com a morte
O que é bom é fácil de obter
O que é terrível é fácil de suportar
3.1 Sabedoria prática
No
programa filosófico de Epicuro a liberdade individual alcançou seu clímax e a “prudência”-
“φρόνησις”
foi eleita como a primeira e melhor das virtudes, mais importante, inclusive do
que a própria filosofia “τούτων δὲ πάντων ἀρχὴ
καὶ τὸ μέγιστον ἀγαθὸν φρόνησις. διὸ καὶ φιλοσοφίας τιμιώτερον ὑπάρχει φρόνησις”.
Para o filósofo do jardim “a sabedoria prática” era a responsável pela
felicidade.[76]
Mas o que era essa felicidade pregada por Epicuro?
3.2 A felicidade
Desde
os primeiros filósofos gregos até os estudiosos da atualidade tem havido muitas
discussões acerca da natureza da felicidade. No entanto, poucos trabalhos
empíricos examinaram seu significado.[77] Mas
“dada a energia que os humanos investem na busca da felicidade o significado
desta merecia uma investigação científica mais profunda”.[78] Mas,
podemos a partir dos filósofos gregos e de pesquisas atuais ter uma noção do
significado da felicidade, como veremos a seguir.
3.2.1
Εὐδαιμονίας
O
substantivo feminino grego "εὐδαιμονίας" é geralmente traduzido em
português por “felicidade", que não é tão ruim.[79] No
entanto, literalmente essa palavra significa "bom demônio"- vem de “ευ”,
“bom” e “δαιμον”,
“demônio”. Mas é claro que tem sido
usada em um sentido mais amplo.[80]
É um termo abrangente para tudo o que é “bom”. E, nesse caso é frequentemente
usado de forma intercambiável com termos como "bem-estar" ou
"qualidade de vida", e denota tanto o bem-estar individual quanto
social.[81]
Todavia, como já antecipamos, desde os primeiros filósofos gregos tem havido
muitas divergências quanto à definição do significado desse termo.[82]
Para Jack J Bauer[83]
em Aristóteles "εὐδαιμονίας" consistia basicamente em prazer e
virtude. Ainda segundo esse autor, os psicólogos reenquadraram a fórmula de
Aristóteles sobre a felicidade em termos de prazer e significado psicossocial,
o que ficou conhecido como bem-estar eudaimônico:[84] “às
vezes, o “bem-estar eudaimônico” e “a boa vida” são equacionados, e às vezes
não são, mas em ambos os casos, os dois compartilham uma relação próxima.” O “bem-estar
eudaimônico” já foi contrastado com o bem-estar hedônico.[85] De
fato, esse último envolve principalmente o prazer, tende a ser mais
individualista.[86]
É importante destacar que quando Epicuro falava sobre felicidade, pensava em
algo como "a ausência de sofrimento no corpo e de perturbações na
alma" - "ἀλγεῖν κατὰσῶμα μήτε ταράττεσθαι κατὰψυχήν”.[87]Os
estudiosos da atualidade costumam dizer que condições subjetivas e objetivas como,
por exemplo, a saúde física e o dinheiro trabalham a favor e contra a
felicidade de inúmeras maneiras.[88]
Algumas pesquisas também afirmaram que o significado da felicidade muda à
medida que as pessoas envelhecem.[89]
Pessoas mais jovens associam a felicidade a excitação, enquanto as mais velhas
associam a sensação de paz.[90]
Mas em uma mesma sociedade, a concepção de felicidade muda de acordo com a
classe social: uma pessoa da classe media baixa pode ter uma ideia de
felicidade, enquanto um cidadão da classe média alta, outra.[91]
CONCLUSÃO
Nesta
pesquisa buscou-se alcançar o significado da frase "θεοὶ μὲν γὰρ εἰσίν" no contexto
da chamada carta sobre a felicidade de Epicuro. À medida que essa busca se
aprofundou foi possível perceber que o sucesso do programa apresentado por
Epicuro dependia da desconstrução de alguns conceitos religiosos vigentes em
seus dias. Pois esses conceitos tinham o potencial para produzir desassossego
psicológico e criar obstáculos em direção a experimentação de uma vida bem-aventura.
É nessa conjuntura que a frase "θεοὶ μὲν γὰρ εἰσίν" deve ser
entendida: ela funcionou como um artifício retórico a partir do qual Epicuro
iniciou a demolição desses conceitos religiosos. E, o filósofo foi muito
habilidoso aqui. Ele procurou demonstrar que os deuses não se interessam, nem
se ocupam com os dilemas humanos, e, portanto, não podem ser responsáveis pela
felicidade ou infelicidade de qualquer pessoa. Igualmente, defendeu que a morte
é o fim de toda experiência sensível, e, assim, portanto, os homens não
precisavam temer um juízo ou uma condenação além - túmulo. Vencidos esses
conceitos, Epicuro buscou enfatizar que o sucesso ou o fracasso dependia tão
somente de modo de vida de cada um. Nesse momento, exaltou a liberdade
individual e argumentou que uma vida dirigida pela prudência teria chances
reais de encontrar a felicidade.[92]
O filósofo acreditava que se libertado da linguagem de alienação o homem
poderia trabalhar na construção da sua felicidade livre de perturbações em sua
alma.
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em: 11 Jan./ 2019.
[1] TAYLOR,
A. E. Epicurus. London: Constable &
Company LTD, 1911, p.7.
[2] Nossa
principal fonte de informação sobre o filósofo Epicuro é Diógenes Laécio em seu
trabalho "A vida dos filósofos", cf.: TAYLOR, 1911, p.6. Ver também:
FARRINGTON, Benjamin. The Faith of
Epicurus. New York: Basic Books, INC., Publishers, 1967, p.xii. Epicuro se
tornou um cidadão ateniense por ter nascido em uma colônia de Atenas, ver: BERGSMA,
Ad. Happiness in the Garden of Epicurus.
In: Journal Happiness Studies. Fev./2008, p.399-400.
[3]
Samos havia se tornado uma área agrícola, ver: TAYLOR, 1911, p.7.
[4]
FARRINGTON, 1967, p.4-5.
[5]
FARRINGTON, 1967, p.4-5.
[6]
FARRINGTON, 1967, p.5.
[7]
FARRINGTON, 1967, p.5.
[8] FARRINGTON, 1967, p.6.
[9] FARRINGTON,
1967, p.6.
[10] FARRINGTON,
1967, p.7.
[11]
FARRINGTON, 1967, p.7.
[12] TAYLOR,
1911, p.7.
[13] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[14] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[15]
BERGSMA, 2008, p.399-400.
[16] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[18]
BERGSMA, 2008, p.399-400.
[19]
TAYLOR, 1911, p.25.
[20] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[21] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[22]
TAYLOR, 1911, p.34.
[23]
TAYLOR, 1911, p.34.
[24]
TAYLOR, 1911, p.34.
[25] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[26]
TAYLOR, 1911, p.35-36.
[27] TAYLOR, 1911, p.35-36.
[28] TAYLOR, 1911, p.35-36.
[29] TAYLOR,
1911, p.35-36.
[30] TAYLOR,
1911, p.35-36.
[31] TAYLOR, 1911, p.35-36.
[32] TAYLOR, 1911, p.36.
[33] TAYLOR, 1911, p.36.
[34] TAYLOR, 1911, p.36-37.
[35] TAYLOR, 1911, p.37-38.
[36] TAYLOR, 1911, p.37-38.
[37] BERGSMA,
2008, p.399-400.
[38]
BERGSMA, 2008, p.399-400.
[39] BERGSMA,
2008, p.400.
[40] BERGSMA,
2008, p.400.
[41] BERGSMA,
2008, p.400.
[42] BERGSMA,
2008, p.400.
[43] BERGSMA,
2008, p.400.
[44] BERGSMA,
2008, p.400.
[45] BERGSMA,
2008, p.400.
[46] BERGSMA,
2008, p.400.
[47] BERGSMA,
2008, p.400.
[48] BERGSMA,
2008, p.400.
[49] BERGSMA,
2008, p.400.
[50]
BERGSMA, 2008, p.400.
[51]
BERGSMA, 2008, p.400.
[52] FARRINGTON, 1967, p.93.
[53] FARRINGTON, 1967, p.93.
[54] BERGSMA,
2008, p.400.
[55] BERGSMA,
2008, p.400.
[56] BERGSMA,
2008, p.400.
[57] BERGSMA,
2008, p.400.
[58] BERGSMA,
2008.p.400-401.
[59]
BERGSMA, 2008.p.403.
[60] O
texto interlinear da carta de Epicuro sobre a felicidade em Grego/inglês se
encontra em: ANDRE, Peter Saint. Letter
to Menoikos. (Monadnock.net), 2011.
Disponível em: http://monadnock.net/epicurus/letter.html#n0>. Acesso em: 07 Jan./ 2019. Há também uma tradução para o inglês, ver:
HICKS, Robert Drew. Letter to Menoeceus
– how to live a Happy (Eudaimon) life by Epicurus. Disponível em: <
http://www.epicuros.gr/pages/en_texts_L_MENOIKEAS.htm >. Acesso em: 07 Jan./
2019. Em português temos uma excelente tradução do texto grego, a saber:
LORENCINI, Álvaro; CARROTORE, Enzo Del. EPICURO:
Carta sobre a Felicidade. São Paulo: Editora UNESP, 2002. Embora exista uma
discussão robusta sobre o que “prolépsis” significa na semântica epicurista,
para Cícero esse termo foi criado por Epicuro para descrever a imortalidade e
bem-aventurança dos deuses, ver: GLIDDEN, David. Epicurean Prolepsis. Binghamton University. Disponível em: <https://orb.binghamton.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1108&context=sagp>. Acesso em: 01 de Jan./ 2019.
[61] BERGSMA,
2008, p. 401.
[62] BERGSMA,
2008, p. 402.
[63] BERGSMA,
2008, p. 402.
[64]
BERGSMA, 2008, p. 402.
[65] BERGSMA,
2008, p. 402.
[66] BERGSMA,
2008, p. 402.
[67]
Para o texto grego e traduções ao inglês e português, ver: ANDRE, Peter Saint. Letter to Menoikos. (Monadnock.net),
2011. Disponível em:<http://monadnock.net/epicurus/letter.html#n0>. Acesso em: 07 Jan./ 2019. Ver também a: LORENCINI;
CARROTORE, 2002, p.48-49.
[68] O
texto interlinear da carta de Epicuro sobre a felicidade em Grego/inglês se
encontra em: ANDRE, Peter Saint. Letter
to Menoikos. (Monadnock.net), 2011. Disponível
em: <http://monadnock.net/epicurus/letter.html#n0>. Acesso em: 07 Jan./ 2019.
[69]
Tradução livre e adaptada, ver: ANDRE, Peter Saint. Letter to Menoikos. (Monadnock.net), 2011. Disponível em: <http://monadnock.net/epicurus/letter.html#n0>. Acesso em: 07 Jan./ 2019.
[70] BERGSMA,
2008, p. 402.
[71]
CASTAÑO, John Fredy Lenis. Ética del
placer. Culpa y felicidad em Epicuro. In: Praxis Filosófica Nueva serie,
No. 42, Jan.-Jun./2016, p.159.
[72]
CASTAÑO, 2016, p.160.
[73]
CASTAÑO, 2016, p.160-161.
[74]
Tradução livre e adaptada, ver: ANDRE, Peter Saint. Letter to Menoikos. (Monadnock.net), 2011. Disponível em:< http://monadnock.net/epicurus/letter.html#n0>.
Acesso em: 07 Jan./ 2019.
[75] BERGSMA,
2008, p. 401.
[76] Peter
Saint – Andre traduziu “φρόνησις” como “sabedoria prática”, ver: ANDRE, Peter
Saint. Letter to Menoikos. (Monadnock.net),
2011. Disponível em:< http://monadnock.net/epicurus/letter.html#n0>. Acesso em: 07 Jan./2019. Outros traduziram “φρόνησις” como “prudência”, ver: LORENCINI; CARROTORE, 2002, p.44-45. No entanto,
no Novo Testamento “φρόνησις” pode aparecer tanto como “sabedoria prática” quanto “prudência”,
na verdade esses dois termos podem ser considerados sinônimos, ver: ROBINSON,
Edward. Léxico Grego do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.967-968.
[77] KAMVAR,
Sep; MOGILNER, Cassie; AAKER, Jennifer. The
meaning(s) of Happiness. In: Research Paper Series – Stanford – Graduate School
of Business (Reasearch Paper nº. 2026), 2009. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/46479630_The_Meanings_of_Happiness>. Acesso em: 03 Jan./ 2019.
[78] KAMVAR,
Sep; MOGILNER, Cassie; AAKER, Jennifer. The
meaning(s) of Happiness. In: Research Paper Series – Stanford – Graduate
School of Business (Reasearch Paper nº. 2026), 2009. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/46479630_The_Meanings_of_Happiness>. Acesso em: 03 Jan./ 2019.
[79]
Para uma perspectiva mais profunda da visão aristotélica sobre a felicidade,
recomendamos: ARCAYA, Oscar Godoy. La
felicidad Aristotélica: pasado y presente. In: Estudios Públicos. 1995. Um
ótimo texto explicativo sobre o significado de felicidade desde Aristóteles até
autores mais modernos é: HAYBRON, Daniel M. Two Philosophical problems in the study of happiness. In: Journal of
Happiness Studies, Fev./ 2000.
[80] ARISTÓTELES.
Ética a Nicômacos. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1985, p.13.
[81] VEENHOVEN,
Ruut. Concept of Happiness. Disponível em: <https://worlddatabaseofhappiness.eur.nl/hap_quer/introtext_measures2.pdf>. Acesso em: 11 Jan./ 2019.
[82]ARISTÓTELES.
Ética a Nicômacos. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1985, p.3.
[83] BAUER,
Jack J.; MCADAMS, Dan P.; PALS, Jennifer
L. Narrative identity and eudaimonic well-being.
In: Jornal of Happiness Studies, Jan./2008, p.82.
[84]
BAUER; MCADAMS; PALS, 2008, p.82.
[85] BAUER;
MCADAMS; PALS, 2008, p.82.
[86]
BAUER; MCADAMS; PALS, 2008, p.82.
[86]
BAUER; MCADAMS; PALS, 2008.p.82.
[87]
LORENCINI; CARROTORE, 2002, p.42.
[88] BAUER;
MCADAMS; PALS, 2008.p.81.
[89] KAMVAR,
Sep; MOGILNER, Cassie; AAKER, Jennifer. The
meaning(s) of Happiness. Research Paper Series – Stanford –Graduate School of
Business (Reasearch Paper nº. 2026), 2009. Disponível
em: <https://www.researchgate.net/publication/46479630_The_Meanings_of_Happiness>. Acesso em: 03 Jan./ 2019.
[90]
Um experimento, feito com jovens e adultos parece confirmar isso, ver: KAMVAR,
Sep; MOGILNER, Cassie; AAKER, Jennifer. The
meaning(s) of Happiness. Research Paper Series – Stanford –Graduate School of
Business (Reasearch Paper nº. 2026), 2009. Disponível
em: <https://www.researchgate.net/publication/46479630_The_Meanings_of_Happiness>. Acesso em: 03 Jan./ 2019.
[91] MARGOT,
Jean Paul. La Felicidad. In: Praxis
Filosófica, Cali: Colômbia, nº 25, 2007, p.58.
[92]
Mas, o programa de Epicuro poderia ter dado
certo? Bergsma comparou os conselhos de Epicuro sobre a felicidade (adaptado à
situação do tempo do filósofo) com as condições de felicidades observadas pela
sociedade atual. Nessa comparação, o autor destacou algumas falhas no programa
oferecido pelo filósofo como, por exemplo, a criação de uma comunidade onde a
liberdade de escolha de seus membros era limitada. Bergsma ainda ressaltou que
para que seja constatada a felicidade é preciso haver uma avaliação positiva da
vida como um todo, mas quando essa vida se passa em uma comunidade, como aquela
em que Epicuro vivia com seus discípulos, essa avaliação se tornar impossível,
Cf., BERGSMA, 2008, p.406-407.