
“O homem rico e Lázaro: um estudo literário e exegético”
"Alguns temas dentro da Bíblia são
famosos por serem complicados. Quando se fala de interpretação de parábolas,
muitas vezes as pessoas saem correndo porque sabem que vai começar uma conversa
complexa e que exige bastante raciocínio de todos os envolvidos. Parábolas não deveriam causar esse tipo de espanto nas pessoas, mas sim um fascínio
resultante tanto de sua beleza literária quanto de sua profundidade teológica.
É bem verdade que muitos livros que
tratam das parábolas do Novo Testamento não ajudam muito os leitores a ficarem
fascinados por elas. Por vezes, esses livros causam mesmo uma sensação de que
estamos entrando num mundo tão complexo e embaralhado que não somos capazes de
compreender esses pequenos textos de maneira mais que superficial.
Superficialidade é o que não
encontramos no livro do meu querido amigo Adriano Carvalho que tenho o
privilégio de prefaciar. Duas são as gratas surpresas ao lermos este livro: a
primeira delas é que o autor consegue tratar desse tema complexo de forma clara
e didática, quebrando a barreira de que parábola é coisa só para doutores; a
outra surpresa boa é que o trabalho aqui apresentado é resultado de vasta e
profunda pesquisa acadêmica e apresentando resultados robustos e esclarecedores
sobre o tema.
Para ilustrar um pouco do que se
apresenta nas páginas vindouras, o autor dessa obra não apenas fez uma revisão
da literatura sobre o tema, mas conseguiu de maneira bastante satisfatória
relacionar as ideias e as posições de autores clássicos sobre o tema com publicações
recentes e recentíssimas nesse campo do saber.
Além disso, a variedade de material
trabalhado traz também uma riqueza de informações que nos dá uma visão mais
ampla. Na obra que está em suas mãos estão apresentadas discussões de autores
ortodoxos, liberais, presbiterianos, luteranos, arminianos, calvinistas,
professores universitários, pastores, adeptos da Nova Perspectiva em Paulo e da
hermenêutica Histórico-gramatical… Adriano Carvalho consegue organizar essa
diversidade de ideias e discuti-las de maneira coerente e informativa. Com
certeza o leitor desta obra sai privilegiado com tais discussões.
Mas a riqueza desta obra vai além da
pluralidade de linhas teológicas e metodológicas. Este livro também é rico por
abordar o assunto por várias vertentes: há nele uma robusta análise textual
(palavra por palavra) comentada, uma abordagem clara da questão contextual que
envolve esta e outras parábolas, um bom ensino sobre a parábola como forma
literária, um discussão muito bem feita de temas chaves envolvidos na
interpretação de nossa passagem alvo…
Sobre as palavras chave ou temas
polêmicos tratados na obra literária que se apresentará nas próximas páginas,
temas muito polêmicos receberam especial cuidado pelo pesquisador. Os tão
discutidos em nossos dias “seio de Abraão” e “hades” merecem nesta obra seções
específicas e muito bem trabalhadas.
Questões como o viés político-social
como pano de fundo dessa parábola não fugiram às hábil pena de Adriano
Carvalho. Ele discute esse tema e apresenta evidências e contra-argumentos para
essa posição e alerta para exageros e mau uso que alguns podem fazer dessa
parábola.
Um grande diferencial dessa obra é o
trabalho que o autor apresenta sobre intertextualidade nesse texto. Ele não só
levanta e discute esse tema nessa passagem, mas traz, de maneira muito
generosa, os textos originais supostamente relacionados com a parábola. Sim, no
livro que você tem em mão há estórias completas de tradição egípcia e grega
para que você mesmo, com o auxílio do autor, possa ler, interpretar e concluir
se há relação da parábola com textos de mitologia antiga.
Prosseguindo com seu modo generoso
de escrever, o prof. Adriano traz úteis explicações sobre mitologia grega e
egípcia para que sejamos capazes de compreendermos a intertextualidade do texto
alvo deste livro. Esta obra ainda traz uma breve, porém útil discussão sobre a
parábola com arte literária e muitos outros recursos, como gráficos, tabelas,
comparações, que, se fossemos comentar um a um tornariam esse prefácio extenso
demais e inadequado para sua função.
Antes de terminar este prefácio,
preciso fazer uma confissão a você, caro leitor: eu sou suspeito para comentar
este livro por dois motivos: primeiro por eu ser amigo pessoal do Adriano desde
os tempos do Mestrado e, segundo, por eu mesmo estar finalizando a escrita de
um livro sobre interpretação de parábolas, um assunto que tanto me fascina e ao
qual pretendo, em breve, dar minha contribuição.
Por esses motivos apresentados
anteriormente e muitos outros que só quem tem o privilégio de conhecer o
professor Adriano Carvalho sabem, celebro a publicação deste livro e recomendo
fortemente sua leitura para todos os interessados na compreensão das parábolas
do Novo Testamento".
Que
Deus os abençoe com essa rica leitura!
Paul Sant'Anna
Doutorando em Grego na Univ. de Lisboa/Portugal
Mestre em Linguística pela UNESP e em
Novo Testamento/ CPAJ/Manckenzie -SP (inconcluso).
Bacharel em Letras (Grego) e em Teologia
Pastor Batista e professor do Seminário - SETELIP